Por muito tempo dominada pelos homens, cada vez mais vemos novas mulheres na construção civil construindo seus espaços.
Dia 8 de março foi o Dia Internacional da Mulher, dia de celebrar as novas conquistas dessas guerreiras que têm ocupado cada vez mais espaços no mercado de trabalho. Sua organização e determinação contribuem muito com o crescimento da presença de mulheres na construção civil.
Por muito tempo, o canteiro de obras foi um espaço masculino, associado com sujeira e força e em que não havia lugar para o feminino. No entanto, nos últimos anos esse preconceito tem caído por terra e a capacidade das mulheres tem cimentado novas estruturas no setor da construção.
Seja nas universidades, cursos profissionalizantes, nas construtoras ou no canteiro de obras, mais uma vez as mulheres fazem valer a máxima: lugar de mulher é onde ela quiser.
Quer entender um pouco mais sobre como o mercado da construção civil tem se aberto para essas trabalhadoras e onde estão as melhores oportunidades? Acompanha com a gente.
E tem um plus: hoje trouxemos uma entrevista exclusiva! Acompanhe o conteúdo para conferir.
Aumento do número de mulheres na construção civil
Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego, a participação feminina na construção civil cresceu cerca de 50% nos últimos anos. Atualmente, são mais de 200 mil mulheres ocupando cargos nos escritórios de engenharia, indústrias e no canteiro de obras.
A história das mulheres na construção civil não é curta e nem recente. Ainda que existam muitas barreiras a serem superadas, são muitas as engenheiras, arquitetas e operárias que marcaram sua passagem na construção do setor.
Hoje em dia, o que se vê é uma evolução mais discreta e constante. À medida que o mercado se desenvolve, mais oportunidades surgem para que elas coloquem a mão na massa.
Se olhando para o canteiro de obras já podemos ver uma presença maior das mulheres, não é de se espantar que o crescimento de sua presença seja ainda mais destacado nos processos formativos.
Cada vez mais mulheres buscam as universidades para cursos de engenharia.
Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que entre os anos de 2003 e 2015 o número de mulheres estudavam engenharia no Brasil passou de 24.554 para 57.022, chegando a ocupar 30,3% das vagas em Engenharia Civil, de acordo com o Censo da Educação Superior.
O número de mulheres matriculadas na Engenharia Civil em 2017 chegou a 105.651.
Em entrevista concedida exclusivamente para o Obra Prima, Gabrielle Ferreira, fundadora de um dos maiores grupos de Whatsapp para mulheres na engenharia, o “Club das Engenheiras”, um espaço que surgiu devido a uma situação que ocorreu em um grupo misto de profissionais da construção civil, na mesma rede de mensagens. A situação levou a criação do “Club das Engenheiras”, voltado apenas ao público feminino. Hoje, Gabrielle Ferreira tem 5 grupos de engenheiras que compartilham experiências de vida e profissionais diariamente.
A engenheira afirma que:
“Com certeza as mulheres estão dominando o mercado da construção civil. É diferente de quando eu comecei na área, até mesmo quando eu me formei. Hoje nas vagas das construção civil, nós ainda vemos muitos homens sendo procurados, mas a quantidade de mulheres está crescendo cada dia mais e mais”.
É nítido o crescimento das mulheres não apenas nos cursos de engenharia, mas no mercado de trabalho.
Cursos profissionalizantes e as novas oportunidades
Além dos cursos superiores, os cursos profissionalizantes e livres tem grande peso no aumento da presença de mulheres na construção civil. Com esses cursos, as mulheres começam a disputar espaço com homens, principalmente como azulejistas, pintoras e eletricistas.
Muitos contratantes justificam o destaque das mulheres nessas atividades pelo cuidado, precisão e atenção aos detalhes e acabamentos que é característica marcante das profissionais do sexo feminino.
Quem disse que a feminilidade e delicadeza das mulheres seria um prejuízo na construção civil parece ter se enganado.
No Brasil, existem dois grandes exemplos de programas de capacitação para mulheres na construção civil. O primeiro deles é o Projeto Mão na Massa, no Rio de Janeiro, que garantiu a capacitação de mais de 200 mil mulheres.
Outro exemplo é a ONG Mulher na Construção, do Rio Grande do Sul, que oferece formação como pedreira, azulejista, pintora, eletricista e ceramista a mais de 5 mil mulheres de forma completamente gratuita.
Além das instituições, cada vez mais surgem os famosos cursos de “marido de aluguel” focado em mulheres em canais do youtube e outras plataformas.
São aulas curtas focadas em reparos do dia a dia como consertar vazamentos, cuidados básicos com instalações elétricas, pintura e reformas simples.
Os desafios para mulheres na construção civil
Mesmo com mais incentivos, reconhecimento e oportunidades, a participação feminina na construção civil está longe de ser ideal. Existem, ainda, diversos desafios a serem enfrentados por essas profissionais.
A desigualdade salarial, assim como em muitos outros setores da economia, ainda é uma realidade na construção. Mesmo com formação superior em engenharia civil igual a dos homens, mulheres recebem menos para desempenhar funções iguais. Em algumas funções a diferença pode chegar a quase 45% menos.
Outra grande resistência vista é a possibilidade de chegar a cargos de gestão. São poucas as mulheres que conseguem chegar a desempenhar funções decisivas nas construtoras e outras empresas do setor.
Para Gabrielle Ferreira, os desafios podem ser maiores para mulheres que estão em campo, que trabalham no dia a dia do canteiro de obras, “existe sim o preconceito de outras pessoas quando vê uma mulher em campo. Numa obra em campo. Se ela é uma engenheira civil e está dentro do escritório, geralmente está tudo bem. Agora em campo, no canteiro de obras, isso é um desafio e para a gente como mulher é um grande desafio.
A criadora do grupo “Club das Engenheiras” ainda afirma que o maior preconceito é taxar a mulher porque ela tem obrigações como ser mãe, esposa ou dona de casa. A questão aqui é: quem disse que a mulher não pode ser tudo isso e ainda assim ser uma ajudante, pedreira, gestora de obras ou engenheira civil?
Gestão de obras e as mulheres na construção civil
A realidade ainda é desigual e injusta com mulheres qualificadas, mas as possibilidades de crescimento profissional estão cada vez maiores. Aos poucos, a mão de obra feminina é reconhecida e suas qualidades consideradas em diferentes postos de trabalhos na construção.
Uma dica para as mulheres que querem crescer e ocupar cargos de gestão: estudem as novas tecnologias. Com o crescimento da importância de softwares de gestão de obras e novos processos, que exigem mais foco, atenção a detalhes e organização, essa pode ser uma grande oportunidade.
Por fim, Gabrielle Ferreira, nossa convidada para o conteúdo de hoje traz uma dica para as mulheres que estão se inserindo no mercado de trabalho da construção civil: “a maior dica que eu dou é não desistir jamais! Porque você é capaz e nada melhor do que acreditar em você mesma. Nunca ouça o por fora, mas ouça você e o seu coração que o sucesso é com certeza garantido”.
A recuperação que o setor da construção civil tem vivido vai exigir cada vez mais profissionais capacitados para a gestão de obras e os incentivos para que a presença de mulheres seja maior vão abrir muitas portas.